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‘Tatuei o nome dos médicos na perna’, diz bancária que sobreviveu ao despencar de ciclovia

Em setembro de 2021, Daniele Camões, de 40 anos, despencou sete metros da ciclovia Tim Maia sobre a pista de carros

A bancária Daniele Camões, de 40 anos, relembrou em entrevista ao jornal O Globo, o acidente que sofreu em setembro de 2021, quando estava de férias e despencou com a sua bicicleta sete metros da ciclovia Tim Maia, no Rio de Janeiro, sobre a pista de carros. Ela relatou que quase morreu devido às complicações do acidente. Em gratidão por ter sobrevivido, Daniele fez uma tatuagem de anjo na perna em homenagem aos médicos que a trataram.

“[Eu] tinha comprado uma bicicleta e fui da Reserva até o shopping Leblon, no Rio, pela ciclovia Tim Maia. Na volta, pelo lado direito, numa curva de 90 graus, me distraí e, como não tinha proteção, despenquei sete metros sobre a pista. Um carro freou em cima de mim, o que estava atrás dele foi para o lado e formou uma barreira para que não me atropelassem”, contou.

A bancária também relatou que foi socorrida por dois policiais civis que trabalhavam numa escolta, e que um deles segurou em sua mão. “Eu pedia para ele não me deixar sozinha. Eu chorava muito, e falava nos meus dentes. Sempre fui muito vaidosa, sabia que estava muito machucada, mas não tinha dimensão do que tinha acontecido comigo. Quebrei o fêmur, o cóccix, o púbis, o quadril, o maxilar em oito partes e o ombro. Meu céu da boca afundou e meus dentes subiram. Perdi tanto sangue que precisei de transfusão”, relembrou.

Ela foi socorrida no dia do acidente ao Hospital Miguel Couto e transferida ao Hospital Badim. No dia seguinte, passou por procedimento cirúrgico no fêmur, com o Dr. Pedro Badim, e depois fez uma outra cirurgia no maxilar, com o Dr. Marcos Badim.

No dia seguinte às cirurgias, Daniele relata que teve embolia pulmonar e quase morreu, passando 14 dias no CTI. “Desses dias não lembro de nada, só da dor, pedia para Deus me levar de tanta dor que sentia. Sempre fui uma pessoa muito ativa e tinha medo de não poder andar nunca mais. Também não sabia como ia ficar meu rosto. Quebrei muitos dentes e para recuperar precisei fazer seis canais, até hoje tenho dificuldade de comer carne, porque minha mordida ficou torta.”

A bancária relata que ficou 45 dias com uma contenção e o maxilar imobilizado por ferros por dentro da boca. Daniele só tomava líquido na seringa e ficou subnutrida. Com 1,65m, chegou a pesar 47 quilos.

“Quinze dias depois de ter saído do hospital, decidiram operar meu quadril porque minha perna estava ficando com 3 cm de diferença da outra. A intenção inicial era que a recuperação ocorresse pelo método conservador já que a cirurgia tinha riscos: passam muitos nervos na região do sacro. Além disso, se quisesse ter filhos seria complicado. Foi desesperador porque estava começando a recuperar meus movimentos. Mas operamos”, afirmou ela.

Depois do procedimento, ela conta que ficou sem andar, deitada no sofá da sala, rotina que viveu por quatro meses. Durante este tempo, ela tomava banho na varanda e precisou usar fralda. “Vivia chorando, entrei em depressão. Você, que é independente, de repente se vê dependente para tudo.Eu não recebia ninguém em casa por minha aparência e porque estava de fralda”, contou ela. A bancária ainda acrescentou que estava muito debilitada e tinha medo da Covid, então acabou ficando muito isolada.

Ela também relata que tem um filho de três anos e ao chegar em casa toda desfigurada, com a boca preta, cheia de pontos, ele ficou assustado e teve medo. “Foi a pior sensação que tive na vida. Ele ficou muito carente esse ano, agora está voltando ao normal. Mas se eu chego tarde, tem medo de eu não voltar. A sorte é que meu marido foi muito parceiro”, disse.

Daniele fez fisioterapia e conseguiu voltar a dormir em sua cama em dezembro. Seu primeiro banho de chuveiro após os procedimentos cirúrgicos, segundo ela, foi com o auxílio de uma cadeira de plástico. Com o tratamento, em janeiro ela já conseguia andar um pouco mais, mas ainda sentia dor

Em fevereiro, o médico a liberou para fazer atividade e, como sempre quis surfar, começou a fazer bodyboard em uma escolinha. “Me ajudou muito por causa do movimento do quadril na água e por estar em contato com a natureza. Em maio acabou minha licença médica e voltei a trabalhar.”

Atualmente, a bancária já consegue andar normalmente e usar até salto alto. Ela também dirige carro automático, faz natação, bodyboard e musculação. “Se eu falar que não sinto dor, é mentira, mas tenho que ser mais forte do que isso. Em nenhum momento aceitei minha condição. Às vezes a gente acha que é o fim do mundo, mas depende da nossa força de vontade”, destacou.

Gratidão pela vida

Ainda em entrevista ao jornal O Globo, Daniele relata que é muito grata ao Dr. Marcos. “Ele foi meu anjo, porque sempre foi carinhoso, atencioso. Desenvolvemos uma relação de afeto que até me emociona”, relatou.

De acordo com a bancária, ao fazer a segunda cirurgia do quadril, ela pensou: “tenho dois anjos aqui. Vou fazer uma tatuagem, porque se estou viva é graças a eles”. Ela conta que é católica e que o anjo representa muita coisa na religião. “Peguei o B do sobrenome deles e usei para as asas. Foi no fim de novembro, eu estava de andador, e fiz na perna que quebrou. Nunca tinha feito uma tatuagem, foi minha primeira. Dr. Marcos falou que aquela homenagem não tinha preço. Ele diz que sou um ponto fora da curva, pela minha vontade de viver”, acrescentou.

Daniele, que havia ficado desfigurada, fez cirurgias reparadoras e fará um novo procedimento cirúrgico nesta semana. Segundo ela, apesar do rosto estar bem melhor, para ela ainda está torto e a questão do sorriso também a incomoda.

“As pessoas falam que sou surreal por estar do jeito que estou. Me sinto empoderada. Acho que posso tudo. Hoje eu quero viver como se não houvesse amanhã, não tenho medo de nada, faço as coisas mesmo, vivo com 1% de juízo, porque ninguém sabe o que passei naqueles quatro meses no sofá”, finalizou ela ao O Globo.

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