Uso político da medicina fez parte da história do País desde a Independência

Alan Landecker
By Alan Landecker
4 Min Read

Introdução ao Uso Político da Medicina

Desde a chegada da família real portuguesa ao Brasil em 1808, a medicina tem desempenhado um papel político significativo no país. Essa influência começou com a criação de instituições de ensino e pesquisa, e a interação com povos nativos e escravizados, moldando práticas que ainda ressoam hoje. O professor André Mota, da Faculdade de Medicina da USP, destaca como essas dinâmicas históricas continuam a impactar a sociedade brasileira.

A Medicina no Período Imperial

Durante o século 19, com a independência do Brasil, a medicina começou a se consolidar como uma ferramenta de poder. A elite colonial, centrada no Rio de Janeiro e em partes de São Paulo e Minas Gerais, utilizou a medicina para promover um pensamento higienista. No entanto, essa abordagem excluía escravizados e indígenas, perpetuando desigualdades que ainda são visíveis.

Progresso e Desigualdade

A medicina do século 19 foi vista como um símbolo de progresso, melhorando a qualidade de vida, mas principalmente para as elites. Enquanto a expectativa de vida aumentou, as disparidades entre diferentes grupos sociais permaneceram. Em São Paulo, por exemplo, a diferença na expectativa de vida entre bairros ricos e pobres é notável, refletindo o acesso desigual aos avanços médicos.

Controle Social e Medicina

Historicamente, a medicina também foi usada como ferramenta de controle social. No século 19, a vacinação foi introduzida como uma forma de controlar epidemias em territórios coloniais. Com o tempo, a vacinação se tornou um direito do cidadão, mas sempre esteve sujeita a interesses políticos e econômicos, como visto recentemente com a covid-19.

Impactos da Pandemia de Covid-19

A pandemia de covid-19 destacou a politização da saúde no Brasil. Durante esse período, a desinformação e a resistência a medidas de saúde pública, como a vacinação e o uso de máscaras, revelaram como a medicina pode ser manipulada para fins políticos, resultando em quase 700 mil mortes no país.

Reflexões sobre a Pandemia

O professor André Mota lançou um livro refletindo sobre a pandemia, enfatizando que as epidemias não surgem isoladamente, mas dentro de contextos sociais e econômicos específicos. A covid-19, por exemplo, emergiu em um mundo marcado por desigualdades e deslocamentos populacionais, exacerbando as falhas do sistema de saúde.

Desafios Contemporâneos

Hoje, o Brasil enfrenta desafios contínuos no uso político da medicina. A resistência a vacinas e a desconfiança em relação à ciência são problemas que precisam ser abordados para garantir uma saúde pública eficaz e equitativa. A história mostra que a medicina pode ser tanto uma ferramenta de progresso quanto de controle.

Conclusão

A trajetória da medicina no Brasil é complexa, entrelaçada com questões de poder e desigualdade. Para o futuro, é crucial que a saúde seja vista como um direito universal, acessível a todos, independentemente de classe social ou origem. A reflexão sobre o passado pode guiar políticas mais justas e inclusivas.

Share This Article
Leave a comment